Manhãzinha.
Surge o sol.
Com ele também o Pedro,
Dona Luzia, Seu Duca,
a Margarida e Carol.
Arruma daqui, grita dali,
A feira vai começar.
Tabuleiros cheios,
cheios os pensamentos.
Venham, venham comprar!
Nesta barraca tem tudo:
tomates, cenouras, batatas...
lutas, amores, tormentos...
tem limão que é só caldo,
laranja, cana e mamão.
Tem a Tânia e o Osvaldo,
vidas de ódio e paixão.
O freguês leva os pepinos,
da banca da Margarida.
Pedro se põe a pensar ,
nos pepinos de sua vida.
Abacaxi tem espinhos,
espinhos também tem a rosa.
Mas a Rosa que vende vinhos,
vida de abacaxis e espinhos.
Seu Duca o peixeiro,
alegre e cantador,
canta a dor do mundo inteiro ,
só não canta a própria dor.
Carol vende comida,
salgados, doces e pães.
Trás no rosto cansado,
as marcas da dura lida,
que marcam todas as mães.
Flores que enfeitam a vida,
flores que perfumam a morte,
flores para amada querida,
flores que trazem a sorte.
Dona Luzia das flores,
trabalha sempre a pensar.
Nas flores de sua vida,
Nas suas flores de amores,
quatro carinhas queridas.
Quatro boquinhas pequenas,
que precisa sustentar.
Finda a manhã,
finda a feira.
Meninos sem eira,
recolhem as sobras.
Sombras de gente,
gente que assombra.
Vidas de xepas,
xepas de vida.